Na sequência de uma conversa na internet cheguei à seguinte conclusão. A preguiça é o motor do progresso. Grande parte das invenções foram feitas para pessoas preguiçosas. Os homens da caverna inventaram a roda. Para quê? Para que eventualmente poderem andar de carro e não se darem ao trabalho de meter um pé à frente do outro. E o comando de televisão? Para não levantarem o rabo do sofá e carregar nos botõezinhos. O email? Obviamente, para não ter a canseira de escrever uma carta, lamber o envelope, tomar banho, sair de casa, ir até aos correios e mandar a carta embora. O telemóvel? Mais uma vez para não sair do sofá para ir atender o telefone fixo. Ou mesmo para, ao andar pela rua, não andar mais meia dúzia de metros até o telefone público. E as compras pela internet? O motivo do costume, além de não ter de cansar os braços com os sacos.
E isto são só as coisas mais comuns. Porque para pessoas extraordináriamente preguiçosas há invenções extraordináriamente estranhas. Como o garfo a pilhas que roda, para as pessoas demasiado preguiçosas para enrolarem o esparguete. Ou o cone para gelado que roda, para as pessoas que nem para lamberem o gelado tem pachorra. Todas estas maravilhosas invenções rotativas, para poupar um pouco de esforço.
Assim sendo, e apenas para incentivar o progresso (note-se), vou pastar para o sofá na esperança que algum génio cientifico, inspirado pela minha inactividade, desate a inventar coisas geniais.
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Dos Jeovás presistentes
Há cerca de duas semanas atrás tocaram-me à campainha. Eram duas daquelas pessoas que andam por aí a falar de Jesus e da salvação das almas e dessas tretas todas. Já tinha tido alguns encontros com gente desta mas, acreditem-me, não estava de todo preparada para o que me esperava. Normalmente, as testemunhas de Jeová só apareciam à minha porta de meses a meses, ou quando os encontrava na rua era facil dizer que tinha pressa e ir embora só com a famosa Sentinela que eles teimam em oferecer, mesmo que nunca ninguém leia.
Mas desta vez encontrei os dois Jeovás mais presistentes da história dos Jeovás. Apesar de eles terem desatado a falar de Jesus e do reino de Deus eu, por momentos, esperei realmente que eles fossem ladrões disfarçados de velhotes com um plano muito astuto para roubarem a minha televisão. Mas, para minha infelicidade, não eram. Simplesmente queriam a salvação da minha alma, o que honestamente não me interessa muito.
Ora, qualquer pessoa normal tinha, respeitosamente, os mandado para o raio que os parta, mas infelizmente sou patológicamente incapaz de ser antipática com desconhecidos e portanto fiquei ali em pé a sorrir e a fazer que sim com a cabeça, enquanto eles (na verdade apenas um deles, que a senhora que o acompanhava limitava-se a olhar estrábicamente para mim) diziam barbaridades sobre não existir evolução das espécies.
O problema não foi, de todo, aturar o discurso religioso durante meia hora. O problema é que eles decidiram continuar a salvar a minha alma. E, muito simpaticamente, disseram que voltavam para a semana para continuar a nossa conversa (nota: não é conversa quando só eles falam e eu limito-me a olhar para eles com ar de quem era mais feliz a ser cortada aos pedacinhos). Mais uma vez, uma pessoa normal teria dito que não obrigada. Eu limitei-me a inventar uma desculpa mal amanhada sobre horários irregulares que não convenceu ninguém.
E, claro, eles voltaram. E voltaram a voltar. E há duas semanas que voltam sempre e eu, em bicos de pés, espreito pela porta e vou embora, silenciosamente, fingindo que não tou em casa.
E agora debato-me com soluções mais definitivas para convencer os Jeovás a não voltarem. A primeira, e mais simples, é um papelinho na porta que diga: Não estamos interessados na salvação das nossas almas, obrigado. Existem outras soluções mais imaginativas e convincentes. Por exemplo, abrir a porta usando uma t-shirt dizendo: Eu (coração) Teoria da Evolução, o que era capaz de os assustar. Ou abrir a porta nua e dizer Desculpe, mas agora não posso. Estou a praticar sexo homossexual, com preservativo. Já agora, não diga nada ao meu marido. E com sexo, lésbicas, contracepção e adultério à mistura eles nunca mais se atreviam a pôr os pés neste antro de perdição. Ou então algo muito mais elaborado que inclui um pentagrama invertido desenhado na porta, trocar a luz do corredor por uma lampada vermelha, ligar o mp3 a umas colunas junto à porta a tocar Ramstein ou coisa assim, e sincronizar isso tudo com a campainha. Se bem que este plano tem a pequena falha de que os vizinhos e os homens da electricidade e isso pensem que somos satanicos e nos expulsem do prédio. O lado bom é que assim despistamos os Jeovás de vez!
Enquanto nenhum destes geniais planos é posto em marcha, limito-me a não abrir a porta.
Este post é basicamente a versão escrita de um debate entre as pessoas que cá moram.
Mas desta vez encontrei os dois Jeovás mais presistentes da história dos Jeovás. Apesar de eles terem desatado a falar de Jesus e do reino de Deus eu, por momentos, esperei realmente que eles fossem ladrões disfarçados de velhotes com um plano muito astuto para roubarem a minha televisão. Mas, para minha infelicidade, não eram. Simplesmente queriam a salvação da minha alma, o que honestamente não me interessa muito.
Ora, qualquer pessoa normal tinha, respeitosamente, os mandado para o raio que os parta, mas infelizmente sou patológicamente incapaz de ser antipática com desconhecidos e portanto fiquei ali em pé a sorrir e a fazer que sim com a cabeça, enquanto eles (na verdade apenas um deles, que a senhora que o acompanhava limitava-se a olhar estrábicamente para mim) diziam barbaridades sobre não existir evolução das espécies.
O problema não foi, de todo, aturar o discurso religioso durante meia hora. O problema é que eles decidiram continuar a salvar a minha alma. E, muito simpaticamente, disseram que voltavam para a semana para continuar a nossa conversa (nota: não é conversa quando só eles falam e eu limito-me a olhar para eles com ar de quem era mais feliz a ser cortada aos pedacinhos). Mais uma vez, uma pessoa normal teria dito que não obrigada. Eu limitei-me a inventar uma desculpa mal amanhada sobre horários irregulares que não convenceu ninguém.
E, claro, eles voltaram. E voltaram a voltar. E há duas semanas que voltam sempre e eu, em bicos de pés, espreito pela porta e vou embora, silenciosamente, fingindo que não tou em casa.
E agora debato-me com soluções mais definitivas para convencer os Jeovás a não voltarem. A primeira, e mais simples, é um papelinho na porta que diga: Não estamos interessados na salvação das nossas almas, obrigado. Existem outras soluções mais imaginativas e convincentes. Por exemplo, abrir a porta usando uma t-shirt dizendo: Eu (coração) Teoria da Evolução, o que era capaz de os assustar. Ou abrir a porta nua e dizer Desculpe, mas agora não posso. Estou a praticar sexo homossexual, com preservativo. Já agora, não diga nada ao meu marido. E com sexo, lésbicas, contracepção e adultério à mistura eles nunca mais se atreviam a pôr os pés neste antro de perdição. Ou então algo muito mais elaborado que inclui um pentagrama invertido desenhado na porta, trocar a luz do corredor por uma lampada vermelha, ligar o mp3 a umas colunas junto à porta a tocar Ramstein ou coisa assim, e sincronizar isso tudo com a campainha. Se bem que este plano tem a pequena falha de que os vizinhos e os homens da electricidade e isso pensem que somos satanicos e nos expulsem do prédio. O lado bom é que assim despistamos os Jeovás de vez!
Enquanto nenhum destes geniais planos é posto em marcha, limito-me a não abrir a porta.
Este post é basicamente a versão escrita de um debate entre as pessoas que cá moram.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Dos amantes de cães
Nestes últimos meses de vida na capital descobri que os cubanos (continentais, para os não familiarizados com o termo) são gente com incomparável amor aos animais, nomeadamente aos cães. Lá na minha terrinha muita gente tinha o seu companheiro canino, que tratava com carinho e dedicação mas nada comparável aos honráveis lisboetas. Esta gente tão altruísta abdica das suas preciosas horas de sono para passear o real traseiro dos seus cães. Compreendo que os animais tenham necessidades fisiológicas que não respeitam qualquer horário, mas na minha terra funciona assim: se não tens um cantinho para que o teu cão possa cagar à vontade, uma varanda, um jardim, ou sequer uma planta de plástico, sem ter de te acordar de madrugada e te fazer ir para os 9 graus que se fazem sentir lá fora, não tenhas um cão. Eu sei que a vida num apartamento pode ser solitária e que um cão ali a ladrar compreensivamente a modos de conversa ajuda imenso. Mas pelo amor de Deus, uma criatura que provavelmente vai fazer com que apanhes uma pneumonia porque quis ir à casa de banho às três da matina não é amigo de ninguém.
Mas aguarde-se, que o amor dos continentais pelos cães ultrapassa em muito a sua capacidade de enfrentar o frio e o sono. Os continentais, pelos seus adorados caninos, enfrentam também a crise. E como? Decidindo vestir os animais com as roupas mais otárias alguma vez imaginadas pelo Homem. Primeiro, os cães têm pelo por uma razão obvia - para se defenderem do frio (excepto, claro, aqueles malfadados caniches que foram tosquiados e que parecem uma velhota com uma permanente). Não precisam de ajuda de um casaco cor-de-rosa com brilhantes ou qualquer coisa pirosa que se assemelhe. Segundo, o cão não é exactamente a criatura mais inteligente do mundo. São espertos, sim eu admito, dá para ensinar um truque ou dois, mas nada de outro mundo. Mas se alguma vez atingirem o patamar dos golfinhos, aqueles atuns inteligentes, e passarem a se reconhecer ao espelho vão acabar suicidas, que com aquelas roupas não há auto-estima que se aguente. No entanto, os donos dos cães não querem saber. Lá vão eles, todos loucos de cão na mala, para as lojinhas com camisolas e chapeus ridiculos para cães, comprar como se não houvesse amanhã. E fiquem sabendo que aquelas amostras de roupa não são baratas, que consta que rondam os 40 euros.
Fique-se já sabendo que da próxima vez que eu encontrar uma velhota com um caniche vestido de Pai Natal, com guizo incluído, dou um pontapé no raio do cão e faço pontaria para que ele vá parar a debaixo do autocarro em movimento mais próximo. As minhas sinceras desculpas ao cão, que admitamos não tem culpa nenhuma, mas é que eu simplesmente não tenho força para pontapear uma velhota tão eficazmente.
Mas aguarde-se, que o amor dos continentais pelos cães ultrapassa em muito a sua capacidade de enfrentar o frio e o sono. Os continentais, pelos seus adorados caninos, enfrentam também a crise. E como? Decidindo vestir os animais com as roupas mais otárias alguma vez imaginadas pelo Homem. Primeiro, os cães têm pelo por uma razão obvia - para se defenderem do frio (excepto, claro, aqueles malfadados caniches que foram tosquiados e que parecem uma velhota com uma permanente). Não precisam de ajuda de um casaco cor-de-rosa com brilhantes ou qualquer coisa pirosa que se assemelhe. Segundo, o cão não é exactamente a criatura mais inteligente do mundo. São espertos, sim eu admito, dá para ensinar um truque ou dois, mas nada de outro mundo. Mas se alguma vez atingirem o patamar dos golfinhos, aqueles atuns inteligentes, e passarem a se reconhecer ao espelho vão acabar suicidas, que com aquelas roupas não há auto-estima que se aguente. No entanto, os donos dos cães não querem saber. Lá vão eles, todos loucos de cão na mala, para as lojinhas com camisolas e chapeus ridiculos para cães, comprar como se não houvesse amanhã. E fiquem sabendo que aquelas amostras de roupa não são baratas, que consta que rondam os 40 euros.
Fique-se já sabendo que da próxima vez que eu encontrar uma velhota com um caniche vestido de Pai Natal, com guizo incluído, dou um pontapé no raio do cão e faço pontaria para que ele vá parar a debaixo do autocarro em movimento mais próximo. As minhas sinceras desculpas ao cão, que admitamos não tem culpa nenhuma, mas é que eu simplesmente não tenho força para pontapear uma velhota tão eficazmente.
Subscrever:
Mensagens (Atom)