Nestes últimos meses de vida na capital descobri que os cubanos (continentais, para os não familiarizados com o termo) são gente com incomparável amor aos animais, nomeadamente aos cães. Lá na minha terrinha muita gente tinha o seu companheiro canino, que tratava com carinho e dedicação mas nada comparável aos honráveis lisboetas. Esta gente tão altruísta abdica das suas preciosas horas de sono para passear o real traseiro dos seus cães. Compreendo que os animais tenham necessidades fisiológicas que não respeitam qualquer horário, mas na minha terra funciona assim: se não tens um cantinho para que o teu cão possa cagar à vontade, uma varanda, um jardim, ou sequer uma planta de plástico, sem ter de te acordar de madrugada e te fazer ir para os 9 graus que se fazem sentir lá fora, não tenhas um cão. Eu sei que a vida num apartamento pode ser solitária e que um cão ali a ladrar compreensivamente a modos de conversa ajuda imenso. Mas pelo amor de Deus, uma criatura que provavelmente vai fazer com que apanhes uma pneumonia porque quis ir à casa de banho às três da matina não é amigo de ninguém.
Mas aguarde-se, que o amor dos continentais pelos cães ultrapassa em muito a sua capacidade de enfrentar o frio e o sono. Os continentais, pelos seus adorados caninos, enfrentam também a crise. E como? Decidindo vestir os animais com as roupas mais otárias alguma vez imaginadas pelo Homem. Primeiro, os cães têm pelo por uma razão obvia - para se defenderem do frio (excepto, claro, aqueles malfadados caniches que foram tosquiados e que parecem uma velhota com uma permanente). Não precisam de ajuda de um casaco cor-de-rosa com brilhantes ou qualquer coisa pirosa que se assemelhe. Segundo, o cão não é exactamente a criatura mais inteligente do mundo. São espertos, sim eu admito, dá para ensinar um truque ou dois, mas nada de outro mundo. Mas se alguma vez atingirem o patamar dos golfinhos, aqueles atuns inteligentes, e passarem a se reconhecer ao espelho vão acabar suicidas, que com aquelas roupas não há auto-estima que se aguente. No entanto, os donos dos cães não querem saber. Lá vão eles, todos loucos de cão na mala, para as lojinhas com camisolas e chapeus ridiculos para cães, comprar como se não houvesse amanhã. E fiquem sabendo que aquelas amostras de roupa não são baratas, que consta que rondam os 40 euros.
Fique-se já sabendo que da próxima vez que eu encontrar uma velhota com um caniche vestido de Pai Natal, com guizo incluído, dou um pontapé no raio do cão e faço pontaria para que ele vá parar a debaixo do autocarro em movimento mais próximo. As minhas sinceras desculpas ao cão, que admitamos não tem culpa nenhuma, mas é que eu simplesmente não tenho força para pontapear uma velhota tão eficazmente.
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2 comentários:
Ate estava a gostar do blog, mas achei de particular mau gosto este post!
Tenho muita pena de quem tem estes sentimentos pelos cães.
Não podemos todos ser iguas.
Creio eu, com a minha mais sincera humildade, que não disse nada verdadeiramente mau em relação aos cães. Tê-los num apartamento sem varanda não é bom nem para eles nem para o dono. E vesti-los com roupinhas que, mais uma vez creio eu, não tem propósito algum também não é algo que beneficie os animais. Note-se que todos os comentários são pautados de ironia.
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