quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dos amantes de cães

Nestes últimos meses de vida na capital descobri que os cubanos (continentais, para os não familiarizados com o termo) são gente com incomparável amor aos animais, nomeadamente aos cães. Lá na minha terrinha muita gente tinha o seu companheiro canino, que tratava com carinho e dedicação mas nada comparável aos honráveis lisboetas. Esta gente tão altruísta abdica das suas preciosas horas de sono para passear o real traseiro dos seus cães. Compreendo que os animais tenham necessidades fisiológicas que não respeitam qualquer horário, mas na minha terra funciona assim: se não tens um cantinho para que o teu cão possa cagar à vontade, uma varanda, um jardim, ou sequer uma planta de plástico, sem ter de te acordar de madrugada e te fazer ir para os 9 graus que se fazem sentir lá fora, não tenhas um cão. Eu sei que a vida num apartamento pode ser solitária e que um cão ali a ladrar compreensivamente a modos de conversa ajuda imenso. Mas pelo amor de Deus, uma criatura que provavelmente vai fazer com que apanhes uma pneumonia porque quis ir à casa de banho às três da matina não é amigo de ninguém.
Mas aguarde-se, que o amor dos continentais pelos cães ultrapassa em muito a sua capacidade de enfrentar o frio e o sono. Os continentais, pelos seus adorados caninos, enfrentam também a crise. E como? Decidindo vestir os animais com as roupas mais otárias alguma vez imaginadas pelo Homem. Primeiro, os cães têm pelo por uma razão obvia - para se defenderem do frio (excepto, claro, aqueles malfadados caniches que foram tosquiados e que parecem uma velhota com uma permanente). Não precisam de ajuda de um casaco cor-de-rosa com brilhantes ou qualquer coisa pirosa que se assemelhe. Segundo, o cão não é exactamente a criatura mais inteligente do mundo. São espertos, sim eu admito, dá para ensinar um truque ou dois, mas nada de outro mundo. Mas se alguma vez atingirem o patamar dos golfinhos, aqueles atuns inteligentes, e passarem a se reconhecer ao espelho vão acabar suicidas, que com aquelas roupas não há auto-estima que se aguente. No entanto, os donos dos cães não querem saber. Lá vão eles, todos loucos de cão na mala, para as lojinhas com camisolas e chapeus ridiculos para cães, comprar como se não houvesse amanhã. E fiquem sabendo que aquelas amostras de roupa não são baratas, que consta que rondam os 40 euros.
Fique-se já sabendo que da próxima vez que eu encontrar uma velhota com um caniche vestido de Pai Natal, com guizo incluído, dou um pontapé no raio do cão e faço pontaria para que ele vá parar a debaixo do autocarro em movimento mais próximo. As minhas sinceras desculpas ao cão, que admitamos não tem culpa nenhuma, mas é que eu simplesmente não tenho força para pontapear uma velhota tão eficazmente.

2 comentários:

Camio disse...

Ate estava a gostar do blog, mas achei de particular mau gosto este post!
Tenho muita pena de quem tem estes sentimentos pelos cães.
Não podemos todos ser iguas.

ScreenLock disse...

Creio eu, com a minha mais sincera humildade, que não disse nada verdadeiramente mau em relação aos cães. Tê-los num apartamento sem varanda não é bom nem para eles nem para o dono. E vesti-los com roupinhas que, mais uma vez creio eu, não tem propósito algum também não é algo que beneficie os animais. Note-se que todos os comentários são pautados de ironia.