sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Querida Carris,
É do meu entender que a razão da vossa existência, mais do que transportar carradas de gente de um lado para outro, é fazê-lo com um mínimo de conforto. E pelo que tenho visto até têm feito um trabalho minimamente decente a combater as possíveis fontes de irritação numa viagem de autocarro.
Proibiram as pessoas de fumar, o que é realmente uma boa ideia que se um autocarro em hora de ponta já é abafado se ainda por cima fumassem lá dentro aquilo ia parecer uma discoteca com rodas. Também lutaram violentamente contra o mau-cheiro, embora eu ache que é uma batalha perdida, pendurando ambientadores-pinheiro-à lá-carro chunga em todos os cantos do autocarro. A intenção foi boa, ao menos isso, se bem que não contaram com o facto de que tudo o que não está aparafusado ao chão mais cedo ou mais tarde vai ser roubado, e como consequência disto o pinheiro ambientendor da Carris tornou-se uma espécie em vias de extinção. E também esqueceram-se que ambientador+cheiro a suor = cheiro não tão agradável quanto isso, mas a intenção foi boa, pensemos assim.
Como vossa mui adorada utilizadora, cuja compra do passe mensal alimenta as bocas da vossa família, venho por este modo avisar de mais um flagelo a combater em prol de uma viagem mais confortável: música tocada em altifalantes do telemóvel.
Há poucas tão irritantes como estar num autocarro a ouvir música que não é nossa e que só com muita muita MUITA sorte será algo que agrade os nossos ouvidos. (devo confessar que nunca aconteceu ouvir algo que me agrade, pois parece haver uma correlação entre o gosto por música brazileira/hip-hop/kuduru/chunga-em-geral e altifalantes do telemóvel)
Está na moda lutar contra a poluição e como tal incito-vos a lutar contra esta poluição sonora que povoa o mundo dos transportes públicos.
Para tal deixo aqui uma suestão de actuação: primeiro passo, acção de sensibilização. Já que gostam tanto de afixar cartazes que ninguém lê e post-its que toda a gente rouba (mas a que
ninguém liga nenhuma, sejamos honestos) façam lá uma campanhazinha a apelar à moral e aos bons costumes, ao respeito cívico e a essas coisas que eu seriamente desconfio não existirem. Pode ser que convençam alguém que ouvir música aos berros não é lá muito simpático. E até dá para fazer uns slogans engraçados para a campanha: "Acredito que tenhas um óptimo gosto musical, mas não preciso de o confirmar."
Como me quer parecer que a abordagem cívica não vai ter lá grande efeito segue-se o segundo passo: desatar a oferecer coisas. Lembram-se daquela altura em que ofereceram, não sei bem porque raio, sementes de salsa? Podem fazer mais ou menos a mesma coisa, mas oferecendo auscultadores. Não é assim tão caro, (ninguém está a exigir phones de quarenta euros da apple) bem negociado conseguem comprá-los a um euro à dúzia no chinês. E na embalagem metem o slogan que já usaram no cartaz - há que reutilizar. É que toda a gente gosta de coisas grátis, e existe uma compulsão quase biológica a usar tudo o que é oferecido, por isso é que as canetas do PSD e as t-shirts da Antena 3 têm sempre saída. É a velha ideia de "se é de graça mais vale aproveitar".
Mas como, certamente, mesmo com coisas oferecidas e posters colados a dois centimetros de distância dos olhos, ainda existirão otários que insistem em partilhar a sua chungaria com o incauto viajante de autocarro sugiro um terceiro, final e mais drástico passo: coima e outra punições. É sabido que toda a gente com poder suficiente para isso gosta da possibilidade de poder multar quem lhe apetecer pelo motivo que lhe apetecer. E a Carris não será excepção. Se eu andasse por aí, feliz e contente, a passear-me de autocarro sem pagar bilhete era multada sem que sequer pensassem duas vezes. E se alguém tivesse a mui infeliz ideia de acender um cigarro num autocarro não só era multado em sabe lá Deus quantas centenas de euros, como provavelmente ainda era corrido do autocarro a pontapé e, certamente, ainda teria de aturar os comentários das velhotas de: "Meu Deus este mundo está perdido, já não bastava estar ali a matar-se com aquilo, ainda vem dar cabo dos pulmões dos outros. E eu cá não posso respirar aquele fumo, que a minha bronquite ataca logo!"
Pois bem, se dar cabo dos pulmões alheios é punível com multa, dar cabo do cérebro (que quer me parecer ser um órgão bem mais essencial) alheio devia sê-lo três vezes mais. E uma multa bem alta, acrescento, que é para que quem a tenha de a pagar se veja forçado a vender o telemóvel e nunca mais possa chatear pessoas inocentes com o raio da sua música.
Partir-lhes os dentes ao pontapé também me parece uma adição à multa aceitável, dado o nível de irritação causado, mas é uma sugestão meramente pessoal.

Sem mais a acrescentar, os meus mais sinceros cumprimentos.

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Do Natal (nada) Sexy

O que raio se passa na cabeça dos publicitários portugueses este ano? É que não sei bem porquê eles decidiram todos que os ícones natalícios de sempre tinham que se tornar sexys.
A Leopoldina deixou de ser o canário gigante e sobre-alimentado da nossa infância, meio esquizofrénico que ora pensa que é um homem das obras, ora o Indiana Jones. Fez uma valente plástica e tornou-se uma, vulgo, gaja toda boa. De repente aparece de roupa preta justinha, em poses de anca espetada à lá hi5 de pita armada em modelo. A pensar que é uma Lara Croft arraçada com o Matriz, a dar mortais e pontapés em tudo o que se mexa.
A Popota, que se bem me lembro nunca foi muito apologista da teoria da moral e dos bons costumes, decidiu abusar este ano. Não é que o raio do bicho aparece este ano a cantar Buraka e a abanar o seu rabo ligeiramente obeso, rodeada de sei lá quantas popotas não tão cor-de-rosa que também abanam indecentemente o rabo?
É que nem o Pai Natal se safou este ano, que a Worten teve a brilhante ideia de o enfiar nuns calções dolorosamente curtos e justos, todo armado em surfista. Ninguém, no seu perfeito estado de espírito, quer ver as pernas albinas do Pai Natal. Mas pronto, tá na moda ser sexy por isso siga.
Eu sei que as crianças dos dias que correm já perderam toda a inocência mas, porra, é Natal! Não é o Salão Erótico de Lisboa.
Se as coisas continuam assim, nem quero imaginar o próximo Natal. Cruzes, a Popota vai fazer danças eróticas em topless, o Pai Natal aparece nú deitado numa pose à lá Playboy e a Leopoldina só Deus sabe o que há de fazer.

Tenha Deus piedade das nossas almas.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Dos multibancos falantes

Se há uma coisa que me faz confusão são multibancos que acham que devem falar. É assim, eu acredito que o facto de eles darem instruções até impede que muita gente distraída veja o seu cartão comido pela máquina, por tê-lo deixado lá demasiado tempo. Mas há coisas no fantástico mundo dos multibancos falantes que me irritam.
Uma pessoa que é apanhada desprevenida por uma destas criaturas apanha sempre um susto do caraças. Porque estamos lá descansados a levantar dinheiro, ou a pagar contas, ou o raio que seja, e a máquina, que nós inocentemente achávamos que ia ignorar-nos como é hábito, manda-nos um berro a dizer para retirar o cartão. E, claro, uma pessoa dá um pulo, em frente às outras dez pessoas que estão na fila, que ficam a olhar-nos como se fossemos otários.
Porque sim, todos os multibancos falantes gritam em vez de falar. Aquilo só tem um volume e é, invariavelmente, muito alto. Suponho que seja para o caso de um velhote com problemas de audição, e faz sentido. Mas convenhamos que é um pedacinho desagradável ter uma máquina a gritar connosco, especialmente quando são oito da manhã.
E só mais uma coisa, devia haver algum controlo do horário desses multibancos que falam. Tudo bem que falem às quatro da tarde, quando há multidões e polícias na rua, agora às quatro da manhã a história é outra. Porque estar sozinho de madrugada a levantar dinheiro e de repente a máquina mandar um berro de "RETIRE O SEU DINHEIRO" manda mais estrondo do que andar com um post-it escrito "Assaltem-me!" na testa.

sábado, 15 de agosto de 2009

É do Verão

Em qualquer outra altura do ano o Porto Santo é o paraíso na terra - praias de areia dourada quase desertas, mar quente, vila pacata... Em Agosto esta ilhota à beira-mar plantada metamorfoseia-se completamente e torna-se num peculiar habitat que alberga toda a espécie de gente.
Primeiro que tudo nota-se a migração dos políticos e outras gentes do social madeirense. As praias enchem-se de políticos semi-nús, que orgulhosamente exibem a sua pilosidade corporal. Não juro (que faltavam-me os óculos para o confirmar) mas creio que há dias vi o Exmo. Sr. Presidente da Região confortavelmente deitado à beira-mar, à sombra da sua própria barriga. Vai daí que podia nem ser, podiam ser só repercussões do trauma que é ver aquela majestosa barriga a passear-se pelo areal em anos anteriores.
Mas não se julgue que as férias da elite regional no Porto Santo são realmente férias. Não, na verdade são uma oportunidade de serem "surpreendidos" pela RTP-M enquanto caminham na praia e ganhar assim algum tempo de antena. É uma boa tecnica, tenho que admitir, que um político de peito à mostra tem sempre mais audiência. Deus tenha é piedade de mim e faça com que a Guida Vieira nunca decida tirar férias.
Há também a migração em massa da juventude regional atraídos pelo diminuto uso de vestuário, vida nocturna, música irritante de Verão, bebida nada barata e curtes que só acontecem graças ao alcool previamente mencionado. Estes nem chateiam muito, visto que durante grande parte das horas de sol refugiam-se em casa a recuperar o sono e eu durante a noite passei a evitar religiosamente todos os antros que passem Mika e Noma-noma-iehei ou o raio que se ouve no Verão. Tive a brilhante ideia de testar um desses lugares, levando o meu irmão na sua primeira excursão pela vida nocturna, e, por estranho que pareça, senti-me velha - aquilo estava apinhado de miudos de 15 anos todos de cabelo em cima das orelhas e poupa à laia de rampa de lançamento e de pitas de 14 com mini-mini-saias a se roçar em tudo o que se mexia. Todos a dançar música que nunca ouvi em toda a minha vida e que o meu primo, criatura da mesma idade que esse batalhão, diz já é antiga: "Isso já é prá'í de 2005!"
A ocupar o resto do espaço desta previamente tão sossegada ilha (o pouco que ainda sobra) estão as famílias. A canalha a rebolar na areia armada em croquete, as mães a berrar atrás "AH piquene do estepilha, vais comer areia! Pára com isse ou levas um estale nai ventas!", os pais a lerem o jornal como se não fosse nada com eles. Agora também disponível em versão cubano (vulgo, continental), que já chegou às terras de sua majestade notícia da existência desta maravilhosa ilhota. Enfim, o comum de qualquer praia que se preze.
Os desgraçados, eu incluída, que simplesmente querem estar descansados na praia a ler um livro ou a nadar... bem, azar! Sujeitem-se a levar com areia na cara e berros nos ouvidos, ou a serem atropelados por uma horda de políticos semi-nús. Ou então aprendam que Agosto não é, definitivamente, o vosso mês.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Das viagens da Easy Jet

Não devia dizer mal de viagens baratas, especialmente quando preciso delas quase dia sim dia não, mas não resisto, a Easy Jet irrita-me mais profundamente do que é suportável.
Aquilo não é uma companhia aérea, é um grupo de ciganos que, por coincidência, sabem pilotar aviões. Verdade que as viagens custam vinte tostões, mas os desgraçados roubam dinheiro com tanta pinta que só lhes faltava cobrar pela quantidade de ar respirado (dêem-lhes tempo e talvez mesmo isso cobrem). É que não lhes bastava cobrar taxas extra por tudo e mais alguma coisa, como ainda tentam vender toda a porcaria possível e imaginária. Sandes, águas, bolachas, tudo tão caro como se fosse feito de ouro, mas até aqui nada fora do comum. Além da disso tem um daqueles catálogos à lá D-Mail ou televendas, cheio de invenções que não lembram ao diabo, como o despertador que pode ser atirado à parede - para pessoas com mau despertar - e o arrefecedor de bebidas que se liga via USB. Ainda assim não é nada de muito estranho, é só o upgrade das outras companhias aéreas que vendem perfumes e peluches (que, como é obvio, a Easy Jet também vende, com a vantagem que os peluches deles têm direito a vários fatos, também disponíveis para venda).
Mas a Easy Jet foi um passo mais longe e decidiu vender raspar... Raspas, pelo amor de Deus, é o que os desgraçados dos velhotes vendem na esquina. Não é algo que se espere dos mui dignos senhores pilotos de aviões, e no entanto o capitão interrompe a complicada tarefa de manter sei lá quantas toneladas de metal a voar para perguntar pelo intercomunicador: "Are you felling lucky? We have raspadinhas!"
Mas deixando de parte por momentos a mania de tentar vender tudo o que não está aparafusado ao chão, a Easy Jet tem ainda mais uma irritante caracteristica, quiçá a mais irritante de todas. A incapacidade de falar português, mas a mania que podem tentar. Ok, eu compreendo que contratar uma ou duas assistentes de bordo portuguesas é um gasto desnecessário. Mas não ponham espanholas ou inglesas a fingir que falam português, o resultado é tão, ou mais, imperceptível. Além do mais, nos dias que correm quase toda a gente sabe falar inglês, e qualquer português que se preze entende espanhol (afinal aquilo é basicamente português com um sotaque porno). Os tristes que não perceberem nem uma coisa nem outra não têm muito com que se preocupar; as mulherzinhas do avião gesticulam para tudo e mais alguma coisa, os panfletos têm desenhos e qualquer um percebe que estão a tentar vender chocolates ou raspas quando alguém os abana dois centimetros à frente dos nossos olhos.
Queridos donos da Easy Jet, aquele ficheirozinho audio com a senhora a fingir que sabe falar português não ajuda niguém. Só dá vontade de atirar com o avião, com toda a tripulação lá dentro, para o meio do oceano quando a mulherzinha diz pela vigésima quinta mil vez Easiii Dsieeete.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Da publicidade virtual

Há boa publicidade, há má publicidade e há publicidade da internet. A publicidade da internet é o limite da irritabilidade porque, ao contrário da televisão em que basta mudar de canal, está em todo o santo site, a piscar, a fazer barulho irritante, a saltar para a frente da cara de cibernautas inocentes. Não há escapatória possível.
Abres o MSN e está lá, como que a gozar da tua cara, "Qual é a capital de Portugal? Lisboa ou Berlim.". Está mesmo a pedir que carreguemos. É uma afronta à inteligência de qualquer um, e até à falta de inteligência, que mesmo alguém burro como uma porta sabe que a capital Portugal é Lisboa. Mas tentamos resistir à tentação de validar a nossa imensa sabedoria ao carregar no botãozinho que, até que se prove o contrário, bem pode fazer explodir o computador ou coisa que se pareça.
Quando finalmente se consegue abstrair do facto do MSN estar a chamar-nos de otários por ainda não termos respondido ao raio da pergunta, e entramos num site qualquer lá está outra publicidade tão irritante que só pode ter sido inventada por criaturas sem vida própria que se enfiam no quarto a pensar qual é a maneira mais eficaz de fazer com que alguém deseje atirar o portátil, quiçá a si próprio, pela janela do 10º andar.
Pode ser um daqueles já míticos Tiro ao Ipod. Porra, com cinco mil ipodes ali a deslizar de um lado para o outro até a dormir acertava num. Não é lá grande desafio à perícia, mas ainda assim tenho a certeza que neste momento há alguém a pensar "Eu consigo acertar no raio do ipod, não consigo?" e lá clica no banner. Ou mesmo um dos inúmeros "Não é brincadeira! Você é mesmo o 25.000.000 visitante! Clique aqui para receber o seu prémio". É, se calhar, coincidencia a mais ser o 25.000.000 visitante em trinta sites diferentes por dia e todos querem oferecer-me prémios. Mas com certeza que muita gente carrega no botão. Tem de carregar, afinal de contas se aquilo ainda continua por ali é que deve dar dinheiro a alguém.
Eu sei que os publicitários da internet não devem ser criaturas assim tão sem coração cujo único entretenimento é inventar maneiras de chatear pessoas. Provavelmente só fazem aquilo para alimentar os cinco filhos, o tio entramelado e a avó acamada. Mas de cada vez que apanho um susto daqueles que quase toco no tecto só porque distraidamente passei o rato por cima do boneco que teima em me quer prever a data da morte, a troca de uma módica quantia (claro!), que desatou a rir maléficamente apetece-me matar ao pontapé o desgraçado que inventou aquela porcaria.

sábado, 18 de julho de 2009

Momento Potter

Isto é só um aparte mas... Ou o argumentista do novo filme do Harry Potter leu um livro completamente diferente do meu, ou anda metido em drogas e alucinou com partes do livro que nunca existiram.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Do twitter

Sim eu sei que toda a gente já falou do Twitter, que as piadas sobre isto já estão fora de prazo à meses, que até a inicial oposição mais violenta já se converteu às maravilhas desta obra tecnológica. Mas isto é só um breve acrescento vindo de alguém a quem o Twitter, até hoje, ultrapassa.
Mais ou menos quando o Twitter, armado em vilão do Bond, dominou o mundo um pró-twitteriano, tentando demonstrar a suprema utilidade desta tecnologia, contou-me a história de um cirurgião que graças ao Twitter resolveu uma mui rara complicação operatória e salvou o paciente. Admito que até foi útil, embora seja assustador imaginar um médico a twittar de bisturi na mão. Sou da opinião que se os putos não podem usar telemóveis nas aulas para não se destrairem, os médicos (regra geral, abro excepções se com isso salvarem vidas) não podem usar Twitter na sala de operações. Digo eu que é igualmente distrativo estar a olhar para o passarinho azul a ver se alguém twittou alguma coisa nova. E o mesmo se aplica a deputados parlamentares, que em vez de estarem a resolver os problemas da nação estão a insultar-se via Twitter. O que é estupido, porque antes de haver Twitter já o Parlamento servia para insultarem-se ao vivo e convenhamos que tem muita mais piada.
Além do mais, a premissa inicial do Twitter é completamente otária e sem objectivo. Consiste em dizer exactamente aquilo que estamos a fazer naquele instante. Ora, se formos honestos a unica coisa que podemos dizer é: "Estou a escrever no twitter". Porque não passa disso. Quanto muito podemos acrescentar actividades que não implicam esforço mental e que podemos com o portátil ao colo, como: "Estou a escrever no twitter, enquanto tiro um monco"; ou "Estou a escrever no twitter, enquanto como uma bola de berlim e encho o teclado de açucar"; ou mesmo "Estou na casa de banho a escrever no twitter, enquanto percebo que já não existe papel higiénico". Fora isso é tudo mentira.

Do correr para não ir a lado nenhum

Correr é uma actividade cansativa. Uma pessoa sua, esforça o coração, cansa as pernas, depois fica a arfar num canto que parece que vai morrer. Não consigo perceber porque raio alguém haveria de querer correr, ainda mais sem motivo aparente.
Correr porque estamos atrasados para o autocarro, ou porque vem um cão com intenções de nos arrancar um pedaço da perna a correr, também ele, atrás de nós até faz sentido. Continua a não ser agradável, mas faz sentido.
Agora, correr à beira da estrada para, sabe Deus quantos kilometros depois, dar a volta e correr outra vez para de onde viemos, sem sequer ter ido a lado nenhum, ultrapassa-me. Faz bem ao coração? Andar como uma pessoa normal também, na verdade qualquer tipo de esforço que ultrapasse ficar sentado no sofá a carregar no comando da televisão. Faz bem ao físico, emagrece e essas tretas todas? Pois claro que sim, ninguém nega isso, só em suor perderam logo dois quilos.
Mas pronto, eu que sou uma pessoa sedentária por natureza posso não compreender as subtilezas dos amantes do desporto (correcção, exercício físico, que se não há regras e ninguém ganha ninguém não é desporto). Ainda assim há coisas nessa honrosa actividade a que se chama jogging - estrangeirismo usado para descrever o acto de correr para não ir a lado nenhum - que, por muito que tente não consigo entender.
Primeiro que tudo, se querem mesmo, precisam até de, correr porquê fazê-lo debaixo do sol escaldante das duas da tarde? Se suar até perder todos os líquidos do corpo e acabar parecendo uma passa é o objectivo então tudo bem, parabéns, conseguiram. Até deixo a sugestão de correr às duas da tarde no Verão, quando estão 40º, usando um anorak e com botijas de água quente amarradas a todo o corpo, vão ver que suam mais depressa e melhor. Mas se não fôr este o objectivo... Bem, não acreditem muito na minha palavra mas correr à noite deve fazer tanto bem (ou melhor, que pelo menos não há risco de apanhar um cancro na pele).
Segundo, não percebo o porquê de fazer jogging aos pares, ou aos grupos. Jogging não é uma actividade social! Quando se está a correr o único som passível de ser feito é arfar violentamente, ou implorar por água. Nada disto é exactamente uma conversa, então porquê meu Deus ir correr com mais alguém? Será que é uma versão desportista das mulheres-vão-à-casa-de-banho-em-grupos?
Finalmente, e nem por isso menos importante, o vestuário. Sim, é preciso uma roupa confortável e minimamente arejada, especialmente quando se correr sob um sol que dava para assar frangos. Mas quando vemos um homem com uma nádega à mostra, de tão curtos que os calções são, não é uma visão muito agradável. E as mulherzinhas com camisolas mínimas, com um decote até ao umbigo, que não estão preparados para todo o impacto e balanço que têm de aguentar. Visto em câmera lenta mais parece uma versão barata do genérico das Marés Vivas, sem tanto plástico convenhamos.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Pelo progresso cientifico

Na sequência de uma conversa na internet cheguei à seguinte conclusão. A preguiça é o motor do progresso. Grande parte das invenções foram feitas para pessoas preguiçosas. Os homens da caverna inventaram a roda. Para quê? Para que eventualmente poderem andar de carro e não se darem ao trabalho de meter um pé à frente do outro. E o comando de televisão? Para não levantarem o rabo do sofá e carregar nos botõezinhos. O email? Obviamente, para não ter a canseira de escrever uma carta, lamber o envelope, tomar banho, sair de casa, ir até aos correios e mandar a carta embora. O telemóvel? Mais uma vez para não sair do sofá para ir atender o telefone fixo. Ou mesmo para, ao andar pela rua, não andar mais meia dúzia de metros até o telefone público. E as compras pela internet? O motivo do costume, além de não ter de cansar os braços com os sacos.
E isto são só as coisas mais comuns. Porque para pessoas extraordináriamente preguiçosas há invenções extraordináriamente estranhas. Como o garfo a pilhas que roda, para as pessoas demasiado preguiçosas para enrolarem o esparguete. Ou o cone para gelado que roda, para as pessoas que nem para lamberem o gelado tem pachorra. Todas estas maravilhosas invenções rotativas, para poupar um pouco de esforço.
Assim sendo, e apenas para incentivar o progresso (note-se), vou pastar para o sofá na esperança que algum génio cientifico, inspirado pela minha inactividade, desate a inventar coisas geniais.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Dos Jeovás presistentes

Há cerca de duas semanas atrás tocaram-me à campainha. Eram duas daquelas pessoas que andam por aí a falar de Jesus e da salvação das almas e dessas tretas todas. Já tinha tido alguns encontros com gente desta mas, acreditem-me, não estava de todo preparada para o que me esperava. Normalmente, as testemunhas de Jeová só apareciam à minha porta de meses a meses, ou quando os encontrava na rua era facil dizer que tinha pressa e ir embora só com a famosa Sentinela que eles teimam em oferecer, mesmo que nunca ninguém leia.
Mas desta vez encontrei os dois Jeovás mais presistentes da história dos Jeovás. Apesar de eles terem desatado a falar de Jesus e do reino de Deus eu, por momentos, esperei realmente que eles fossem ladrões disfarçados de velhotes com um plano muito astuto para roubarem a minha televisão. Mas, para minha infelicidade, não eram. Simplesmente queriam a salvação da minha alma, o que honestamente não me interessa muito.
Ora, qualquer pessoa normal tinha, respeitosamente, os mandado para o raio que os parta, mas infelizmente sou patológicamente incapaz de ser antipática com desconhecidos e portanto fiquei ali em pé a sorrir e a fazer que sim com a cabeça, enquanto eles (na verdade apenas um deles, que a senhora que o acompanhava limitava-se a olhar estrábicamente para mim) diziam barbaridades sobre não existir evolução das espécies.
O problema não foi, de todo, aturar o discurso religioso durante meia hora. O problema é que eles decidiram continuar a salvar a minha alma. E, muito simpaticamente, disseram que voltavam para a semana para continuar a nossa conversa (nota: não é conversa quando só eles falam e eu limito-me a olhar para eles com ar de quem era mais feliz a ser cortada aos pedacinhos). Mais uma vez, uma pessoa normal teria dito que não obrigada. Eu limitei-me a inventar uma desculpa mal amanhada sobre horários irregulares que não convenceu ninguém.
E, claro, eles voltaram. E voltaram a voltar. E há duas semanas que voltam sempre e eu, em bicos de pés, espreito pela porta e vou embora, silenciosamente, fingindo que não tou em casa.
E agora debato-me com soluções mais definitivas para convencer os Jeovás a não voltarem. A primeira, e mais simples, é um papelinho na porta que diga: Não estamos interessados na salvação das nossas almas, obrigado. Existem outras soluções mais imaginativas e convincentes. Por exemplo, abrir a porta usando uma t-shirt dizendo: Eu (coração) Teoria da Evolução, o que era capaz de os assustar. Ou abrir a porta nua e dizer Desculpe, mas agora não posso. Estou a praticar sexo homossexual, com preservativo. Já agora, não diga nada ao meu marido. E com sexo, lésbicas, contracepção e adultério à mistura eles nunca mais se atreviam a pôr os pés neste antro de perdição. Ou então algo muito mais elaborado que inclui um pentagrama invertido desenhado na porta, trocar a luz do corredor por uma lampada vermelha, ligar o mp3 a umas colunas junto à porta a tocar Ramstein ou coisa assim, e sincronizar isso tudo com a campainha. Se bem que este plano tem a pequena falha de que os vizinhos e os homens da electricidade e isso pensem que somos satanicos e nos expulsem do prédio. O lado bom é que assim despistamos os Jeovás de vez!
Enquanto nenhum destes geniais planos é posto em marcha, limito-me a não abrir a porta.


Este post é basicamente a versão escrita de um debate entre as pessoas que cá moram.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Dos amantes de cães

Nestes últimos meses de vida na capital descobri que os cubanos (continentais, para os não familiarizados com o termo) são gente com incomparável amor aos animais, nomeadamente aos cães. Lá na minha terrinha muita gente tinha o seu companheiro canino, que tratava com carinho e dedicação mas nada comparável aos honráveis lisboetas. Esta gente tão altruísta abdica das suas preciosas horas de sono para passear o real traseiro dos seus cães. Compreendo que os animais tenham necessidades fisiológicas que não respeitam qualquer horário, mas na minha terra funciona assim: se não tens um cantinho para que o teu cão possa cagar à vontade, uma varanda, um jardim, ou sequer uma planta de plástico, sem ter de te acordar de madrugada e te fazer ir para os 9 graus que se fazem sentir lá fora, não tenhas um cão. Eu sei que a vida num apartamento pode ser solitária e que um cão ali a ladrar compreensivamente a modos de conversa ajuda imenso. Mas pelo amor de Deus, uma criatura que provavelmente vai fazer com que apanhes uma pneumonia porque quis ir à casa de banho às três da matina não é amigo de ninguém.
Mas aguarde-se, que o amor dos continentais pelos cães ultrapassa em muito a sua capacidade de enfrentar o frio e o sono. Os continentais, pelos seus adorados caninos, enfrentam também a crise. E como? Decidindo vestir os animais com as roupas mais otárias alguma vez imaginadas pelo Homem. Primeiro, os cães têm pelo por uma razão obvia - para se defenderem do frio (excepto, claro, aqueles malfadados caniches que foram tosquiados e que parecem uma velhota com uma permanente). Não precisam de ajuda de um casaco cor-de-rosa com brilhantes ou qualquer coisa pirosa que se assemelhe. Segundo, o cão não é exactamente a criatura mais inteligente do mundo. São espertos, sim eu admito, dá para ensinar um truque ou dois, mas nada de outro mundo. Mas se alguma vez atingirem o patamar dos golfinhos, aqueles atuns inteligentes, e passarem a se reconhecer ao espelho vão acabar suicidas, que com aquelas roupas não há auto-estima que se aguente. No entanto, os donos dos cães não querem saber. Lá vão eles, todos loucos de cão na mala, para as lojinhas com camisolas e chapeus ridiculos para cães, comprar como se não houvesse amanhã. E fiquem sabendo que aquelas amostras de roupa não são baratas, que consta que rondam os 40 euros.
Fique-se já sabendo que da próxima vez que eu encontrar uma velhota com um caniche vestido de Pai Natal, com guizo incluído, dou um pontapé no raio do cão e faço pontaria para que ele vá parar a debaixo do autocarro em movimento mais próximo. As minhas sinceras desculpas ao cão, que admitamos não tem culpa nenhuma, mas é que eu simplesmente não tenho força para pontapear uma velhota tão eficazmente.