sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bem vindo ao mundo encantado dos transportes públicos

Eu até gostava de autocarros, juro, mas desde que vim para a capital descobri que não há, neste mundo, coisa que mais me irrite.
Primeiro, ninguém no seu perfeito juízo põe musica a tocar no altifalante do telemóvel. Mesmo que essa pessoa tenha (ou julgue ter) o melhor gosto musical da história da civilização humana, existe uma grande possibilidade de que alguém, nos 50 passageiros de um autocarro, não gostar. Mas o pior é que essas personagens que adoram partilhar a sua musica tendem a ter um gosto um tanto ou quanto duvidoso, que normalmente envolve kuduro ou puntz puntz. As minhas mais sinceras desculpas a quem gosta de tais coisas, mas a mim isso às 9 da manhã quando eu ainda estou meia atordoada de sono irrita-me imenso. E quer me parecer que não é só a mim, que eu não estou a ver velhotes de bigode e cabelos brancos a dançar freneticamente ao som de Buraka.
Segundo, e isto é um mal que também aflige a minha ilhota à beira mal plantada, o forte odor corporal que se sente no autocarro. Em todos os autocarros do mundo, creio eu, deve-se sentir aquele (nada) agradável perfume a cebola e queijo podre e sabe Deus mais o quê. Mas a CP, num momento de iluminação divina, teve uma genial ideia. Colocar ambientadores para disfarçar a coisa. Resultado? Agora temos autocarros que, além do normal cheiro a homem-de-obras-no-fim-de-um-cansativo-dia, cheiram também a carro chunga que tem dados pendurados no espelho. Aquela espécie de cheiro a pinho, apesar de eu nunca na vida ter visto um pinheiro ou qualquer elemento natural com um aroma sequer remotamente parecido.
Terceiro, os engarrafamentos. Deus, eu já tinha visto engarrafamentos, mas isto aqui é o auge, o pai de todos os engarrafamentos! Nem me queixo de que existam muitos, pelo menos eu só apanhei 3 ou 4. Mas quando há um engarrafamento aqui é uma coisa que impõe respeito. Não se limita a um pedacinho de estrada. Vai quase de uma ponta a outra do percurso do autocarro. E então uma já maçadora de 25 minutos torna-se uma insuportável procissão de mais de uma hora, sempre no limite dos respeitáveis 20 km/h.
Isto sem enumerar as peculiares personagens que encontras nas viagens. Como o homem que corta as unhas e deixa-as voar livremente em direcção a uma cabeça desprotegida. Ou aqueles que comem sandes. Também as pessoas que tem um prazer imenso em contar toda a sua vida em alto e bom som, pondo-me assim ao corrente das peculariedades da vida de uma doméstica ou do quão trabalhoso é ser reformado. E ainda os casais de namorados, que mais do que se beijarem, lançam-se numa odisseia de linguas e mãos em lugares inominaveis; não é que eu seja contra os jovens e apaixonados, simplesmente prefiro não ver soft porn num autocarro em andamento.
Mas deixemos de parte o interessantissimo habitat social que são os autocarros. Tenho que referir uma peculariedade que só é possível nos electricos. Note-se, eu raramente ando em tal coisa e dos electricos novos e todos xpto não tenho (por agora) qualquer motivo de queixa. Mas nos electricos antigos descobri uma nova espécie de otários: penduras que tem como divertimento largar valentes carrolaços nos peões inocentes. Não, isto não é mito urbano, infelizmente descobri isto por experiência propria. Ora, ia eu a subir, inocentemente, uma rua em direcção à faculdade quando fui subitamente atingida por uma chapada na nuca, vinda sabe-se lá donde. Obviamente, desatei a gritar impropérios que não são dignos nem de constarem neste blog. E quando olho em volta para ver quem tinha sido o otário responsavel por tal acto, vejo um pendura no electrico. Do mal o menos que desculpou-se, gritando: "Desculpa! Pensei que eras uma velha!" Claro, era obvio, largar carrolaços em velhinhas inocentes é perfeitamente aceitável...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Espirito Natalicio

Eu bem sei que isto é apenas o meu segundo "Natal" na Capital, e que como tal não conheço e, certamente, não percebo os vossos costumes. Deve ser isso, porque hoje tive a infelicidade de passar pelo Terreiro do Paço de noite. Não seria nada de excepcional se não fossem as belíssimas decorações de Natal. Ora bem, elaboremos.
Eu gosto de gambiarras e decorações e isso tudo. Mas acontece que a praça do Comércio está coberta, de cima a baixo, de luzes que piscam furiosamente num tom de branco-azulado-strob-de-discoteca. À primeira vista parecia uma daquelas filmagens de guerra, em que muito ao longe se veêm explosões. Mas não. É mesmo o raio do Natal. O gosto do homenzinho que decorou aquela merda pode (é) duvidoso. Contudo, a questão é. Existem epilépticos nesta cidade. E luzes que pisquem depressa tem a tendência a fazer com que os epilépticos tenham um ataquezinho. Vai daí que gente a estrebuchar no chão e a espumar pela boca não é nada agradavel. E se eles caem para o lado errado, onde passam autocarros? Já não era mau o suficiente terem um ataque e ainda por cima são atropelados pelo 36 - Senhor Roubado?
O pior é que o mau gosto é geral. Depois de ter deixado o Terreiro do Passo e a minha mente ir lentamente acalmando, até chegar ao ponto da normalidade em que eu, ao fechar os olhos, já não vejo as luzes a piscar, dei comigo no Rossio. Qual não é o meu choque quando vejo que é o regresso das luzes assassinas, a cobrir uma fachada qualquer de um edificio. E todo o mal fosse esse! No meio da praça estava o fantastico mundo da Leopoldina, ou fosse lá o que fosse, à solta. Um maravilhoso aglomerado de cartão a imitar neve, que supostamente as criancinhas vão adorar. Eu bem me lembro dos meus tempos de criança inocente e, apesar de até hoje saber a musica do Mundo dos Brinquedos de cor, nunca achei muita piada à Leopoldina. E neve de cartolina tambem não me parece grande coisa.
Juro que antes de morar cá achava as gambiarras da Madeira más. Com cestos de uvas e vilhões (continuo sem perceber o que é que isso tem a ver com o Natal) e patinhos amarelos e anjinhos. Mas depois de hoje parece-me a coisa mais bonita do mundo. É que por lá eu ainda andava a saltitar e a cantar coisas de Natal (também é de notar que lá as iluminações começam no dia 1 de Dezembro e não no meio do Verão, praticamente, como acontece por cá). Aqui na Capital, pelo menos este ano, ando demasiado ocupada a ter alucinações induzidas pelos flashes das gambiarras que nem consigo apelar ao espirito natalicio.
Se eu, subitamente, deixar de escrever, é sinal de que entrei em estado psicotico, desatei a estrebuchar pelo chão e fui brutalmente atropelada por um autocarro.


PS.: para os continentais que não souberem o que é uma gambiarra (acontece, eu já conheci gente assim) é basicamente uma corrente de luzinhas para pôr na arvore de natal.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Drogas-doces

Ensinaram-me os meus pais desde bem novinha que não se deve aceitar doces de estranhos porque (esta explicação saiu da boca deles, não é mera invenção) pode ter droga lá dentro. Eu cá não sei, não é como se eu fosse uma especialista na matéria, mas quer-me parecer que a droga está demasiado cara para andar a enfia-la dentro de chocolates e chicletes e a a distribuir à porta da escola. Digo eu que seria melhor negocio vende-la, que o que há mais por aí é gente disposta a pagar bom dinheiro por ela.
A teoria é a seguinte, dá-se um chocolate recheado de droga a uma inocente criancinha de 6 anos. Ela, obviamente, come o chocolate, delira com a droga e, no dia seguinte, vai correndo e saltando em direcção ao homem simpático que lhe deu o chocolate que, surpresa surpresa, é um dealer e que, vendo que a criança agarrou-se à droga/chocolate, cobra exorbitantes quantias pelo próximo doce.
Faz sentido, até eu se fosse um puto e depois de comer chocolates desatasse a ver unicórnios e duendes e coisas do género também ia querer mais daquilo. Ter um unicórnio privado é muito melhor que ver o canal panda (o baby tv era optimo, por exemplo para ver sobre efeito de acidos, que aquilo de quando em quando é bastante psicadélico).
Mas se as coisas sucedessem deste modo, penso eu que as criancinhas, à falta de dinheiro, (que quanto muito dá para comprar gomas, que, convenhamos, são bem mais baratas que droga) iam tentar pagar ao traficante com cromos e berlindes. E não me quer parecer que eles iam aceitar.
E, além do mais, eu nunca, em toda a minha vida, vi um puto de seis anos numa esquina, com ar de drogado a pedir uma moedinha. Posso ser só eu, mas parece que o negócio de oferecer droga em doces não funciona lá muito bem.

O Sexo e a Divindade

Considerem esta possibilidade, se Deus é omnipresente ele vê todas as vezes em que alguém, neste mundo inteiro, faz sexo. Para Ele, o mundo é a sua revista porno privada, melhor dizendo, filme porno. No entanto, a porno divina é o derradeiro upgrade em relação à pobre pornografia dos meros mortais.
Primeiro, não é apenas um casal que está em questão, nem sequer uma menage. É a maior orgia de todos os tempos, uma orgia planetária, talvez mesmo universal. Poder apreciar de incomparável ponto de vista toda essa actividade é um privilégio (dependendo, claro, do ponto de vista) digno apenas de uma divindade. E se, em adição a isso, Deus tiver a capacidade de focar a sua atenção divina onde bem lhe apetecer (e se Deus não tiver essa capacidade honestamente não sei o porquê de acreditar nele, afinal até um puto de seis anos consegue concentrar-se numa unica tarefa) então a porno divina torna-se num incomparável pay-per-view em que é possível ver todo e qualquer tipo de taras existentes neste mundo.
Agora analisemos, se Deus existe e é, por assim dizer, o maior voyer deste planeta, assistindo diariamente a centenas de deparvações, quem é a Igreja para nos andar a proibir de ter sexo fora do casamento e para fins não reprodutivos? Afinal de contas, foi a Igreja que achou de inventar que Ele é omnipresente, não eu. Agora amanhem-se com as consequências.


PS.: Este post é apenas uma divagação de uma jovem inconsequente sem intenções de ofender ninguém. A todos aqueles que acreditam, as minhas desculpas. É favor não atirar ovos à minha casa, que isso até custa a limpar.