sábado, 15 de agosto de 2009

É do Verão

Em qualquer outra altura do ano o Porto Santo é o paraíso na terra - praias de areia dourada quase desertas, mar quente, vila pacata... Em Agosto esta ilhota à beira-mar plantada metamorfoseia-se completamente e torna-se num peculiar habitat que alberga toda a espécie de gente.
Primeiro que tudo nota-se a migração dos políticos e outras gentes do social madeirense. As praias enchem-se de políticos semi-nús, que orgulhosamente exibem a sua pilosidade corporal. Não juro (que faltavam-me os óculos para o confirmar) mas creio que há dias vi o Exmo. Sr. Presidente da Região confortavelmente deitado à beira-mar, à sombra da sua própria barriga. Vai daí que podia nem ser, podiam ser só repercussões do trauma que é ver aquela majestosa barriga a passear-se pelo areal em anos anteriores.
Mas não se julgue que as férias da elite regional no Porto Santo são realmente férias. Não, na verdade são uma oportunidade de serem "surpreendidos" pela RTP-M enquanto caminham na praia e ganhar assim algum tempo de antena. É uma boa tecnica, tenho que admitir, que um político de peito à mostra tem sempre mais audiência. Deus tenha é piedade de mim e faça com que a Guida Vieira nunca decida tirar férias.
Há também a migração em massa da juventude regional atraídos pelo diminuto uso de vestuário, vida nocturna, música irritante de Verão, bebida nada barata e curtes que só acontecem graças ao alcool previamente mencionado. Estes nem chateiam muito, visto que durante grande parte das horas de sol refugiam-se em casa a recuperar o sono e eu durante a noite passei a evitar religiosamente todos os antros que passem Mika e Noma-noma-iehei ou o raio que se ouve no Verão. Tive a brilhante ideia de testar um desses lugares, levando o meu irmão na sua primeira excursão pela vida nocturna, e, por estranho que pareça, senti-me velha - aquilo estava apinhado de miudos de 15 anos todos de cabelo em cima das orelhas e poupa à laia de rampa de lançamento e de pitas de 14 com mini-mini-saias a se roçar em tudo o que se mexia. Todos a dançar música que nunca ouvi em toda a minha vida e que o meu primo, criatura da mesma idade que esse batalhão, diz já é antiga: "Isso já é prá'í de 2005!"
A ocupar o resto do espaço desta previamente tão sossegada ilha (o pouco que ainda sobra) estão as famílias. A canalha a rebolar na areia armada em croquete, as mães a berrar atrás "AH piquene do estepilha, vais comer areia! Pára com isse ou levas um estale nai ventas!", os pais a lerem o jornal como se não fosse nada com eles. Agora também disponível em versão cubano (vulgo, continental), que já chegou às terras de sua majestade notícia da existência desta maravilhosa ilhota. Enfim, o comum de qualquer praia que se preze.
Os desgraçados, eu incluída, que simplesmente querem estar descansados na praia a ler um livro ou a nadar... bem, azar! Sujeitem-se a levar com areia na cara e berros nos ouvidos, ou a serem atropelados por uma horda de políticos semi-nús. Ou então aprendam que Agosto não é, definitivamente, o vosso mês.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Das viagens da Easy Jet

Não devia dizer mal de viagens baratas, especialmente quando preciso delas quase dia sim dia não, mas não resisto, a Easy Jet irrita-me mais profundamente do que é suportável.
Aquilo não é uma companhia aérea, é um grupo de ciganos que, por coincidência, sabem pilotar aviões. Verdade que as viagens custam vinte tostões, mas os desgraçados roubam dinheiro com tanta pinta que só lhes faltava cobrar pela quantidade de ar respirado (dêem-lhes tempo e talvez mesmo isso cobrem). É que não lhes bastava cobrar taxas extra por tudo e mais alguma coisa, como ainda tentam vender toda a porcaria possível e imaginária. Sandes, águas, bolachas, tudo tão caro como se fosse feito de ouro, mas até aqui nada fora do comum. Além da disso tem um daqueles catálogos à lá D-Mail ou televendas, cheio de invenções que não lembram ao diabo, como o despertador que pode ser atirado à parede - para pessoas com mau despertar - e o arrefecedor de bebidas que se liga via USB. Ainda assim não é nada de muito estranho, é só o upgrade das outras companhias aéreas que vendem perfumes e peluches (que, como é obvio, a Easy Jet também vende, com a vantagem que os peluches deles têm direito a vários fatos, também disponíveis para venda).
Mas a Easy Jet foi um passo mais longe e decidiu vender raspar... Raspas, pelo amor de Deus, é o que os desgraçados dos velhotes vendem na esquina. Não é algo que se espere dos mui dignos senhores pilotos de aviões, e no entanto o capitão interrompe a complicada tarefa de manter sei lá quantas toneladas de metal a voar para perguntar pelo intercomunicador: "Are you felling lucky? We have raspadinhas!"
Mas deixando de parte por momentos a mania de tentar vender tudo o que não está aparafusado ao chão, a Easy Jet tem ainda mais uma irritante caracteristica, quiçá a mais irritante de todas. A incapacidade de falar português, mas a mania que podem tentar. Ok, eu compreendo que contratar uma ou duas assistentes de bordo portuguesas é um gasto desnecessário. Mas não ponham espanholas ou inglesas a fingir que falam português, o resultado é tão, ou mais, imperceptível. Além do mais, nos dias que correm quase toda a gente sabe falar inglês, e qualquer português que se preze entende espanhol (afinal aquilo é basicamente português com um sotaque porno). Os tristes que não perceberem nem uma coisa nem outra não têm muito com que se preocupar; as mulherzinhas do avião gesticulam para tudo e mais alguma coisa, os panfletos têm desenhos e qualquer um percebe que estão a tentar vender chocolates ou raspas quando alguém os abana dois centimetros à frente dos nossos olhos.
Queridos donos da Easy Jet, aquele ficheirozinho audio com a senhora a fingir que sabe falar português não ajuda niguém. Só dá vontade de atirar com o avião, com toda a tripulação lá dentro, para o meio do oceano quando a mulherzinha diz pela vigésima quinta mil vez Easiii Dsieeete.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Da publicidade virtual

Há boa publicidade, há má publicidade e há publicidade da internet. A publicidade da internet é o limite da irritabilidade porque, ao contrário da televisão em que basta mudar de canal, está em todo o santo site, a piscar, a fazer barulho irritante, a saltar para a frente da cara de cibernautas inocentes. Não há escapatória possível.
Abres o MSN e está lá, como que a gozar da tua cara, "Qual é a capital de Portugal? Lisboa ou Berlim.". Está mesmo a pedir que carreguemos. É uma afronta à inteligência de qualquer um, e até à falta de inteligência, que mesmo alguém burro como uma porta sabe que a capital Portugal é Lisboa. Mas tentamos resistir à tentação de validar a nossa imensa sabedoria ao carregar no botãozinho que, até que se prove o contrário, bem pode fazer explodir o computador ou coisa que se pareça.
Quando finalmente se consegue abstrair do facto do MSN estar a chamar-nos de otários por ainda não termos respondido ao raio da pergunta, e entramos num site qualquer lá está outra publicidade tão irritante que só pode ter sido inventada por criaturas sem vida própria que se enfiam no quarto a pensar qual é a maneira mais eficaz de fazer com que alguém deseje atirar o portátil, quiçá a si próprio, pela janela do 10º andar.
Pode ser um daqueles já míticos Tiro ao Ipod. Porra, com cinco mil ipodes ali a deslizar de um lado para o outro até a dormir acertava num. Não é lá grande desafio à perícia, mas ainda assim tenho a certeza que neste momento há alguém a pensar "Eu consigo acertar no raio do ipod, não consigo?" e lá clica no banner. Ou mesmo um dos inúmeros "Não é brincadeira! Você é mesmo o 25.000.000 visitante! Clique aqui para receber o seu prémio". É, se calhar, coincidencia a mais ser o 25.000.000 visitante em trinta sites diferentes por dia e todos querem oferecer-me prémios. Mas com certeza que muita gente carrega no botão. Tem de carregar, afinal de contas se aquilo ainda continua por ali é que deve dar dinheiro a alguém.
Eu sei que os publicitários da internet não devem ser criaturas assim tão sem coração cujo único entretenimento é inventar maneiras de chatear pessoas. Provavelmente só fazem aquilo para alimentar os cinco filhos, o tio entramelado e a avó acamada. Mas de cada vez que apanho um susto daqueles que quase toco no tecto só porque distraidamente passei o rato por cima do boneco que teima em me quer prever a data da morte, a troca de uma módica quantia (claro!), que desatou a rir maléficamente apetece-me matar ao pontapé o desgraçado que inventou aquela porcaria.