segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dos concertos

Gosto de observar pessoas. Gosto especialmente quando estas não fazem a mínima ideia de que estão a ser observadas - um concerto, digamos. É que num concerto está, por norma, escuro e tem um bando de gente num palco a tocar, com luzes a chamar atenção... E as pessoas partem do pressuposto que ninguém vai olhar para lado nenhum que não o palco, e fazem o que lhes dá na real gana. Oh, olhar para o público num concerto é das coisas mais cómicas que se pode fazer.
Estava um gajo a abanar violentamente a cabeça, convicto que estava no mais hardcore dos concertos de metalada (e a música, posso garantir, não tinha nada a ver com isso). Uma rapariga, solitariamente em pé no meio de uma multidão sentada, abanava-se freneticamente como se fosse uma shakira com três costelas partidas. Outro gajo, se calhar bipolar, não se conseguia decidir entre juntar-se ao metaleiro no headbanging ou abanar-se suavemente ao som da música - o que resultou em movimentos estranhos que mais pareciam espasmos que quase fizeram com que os óculos lhe saltassem da cara duas ou três vezes.
A personagem da noite foi, sem dúvida, o velhote-on-speeds, com quem eu tive o prazer de uma convivência próxima, visto que o homem estava mesmo à minha frente. O velhote parecia que estava no Saturday Night Fever, a fazer aqueles passos de dança à lá Travolta mas dez vezes acima da velocidade normal e isto tudo enquanto saltava.
Sobra ainda o duo-maravilha. A rapariga que achava que era o Rocky Balboa e que passou o tempo todo a dar socos no ar, pareceu-me a mim que ao som do Eye of the Tiger. E a amiga que, pela maneira como dançava, de certeza que pertencia ao rancho folclórico da Pampilhosa da Serra.
O mais triste é que nada disto tinha o mínimo a ver com a música que estavam a tocar. Comprovem se quiserem.



E sim, o concerto foi genialmente bom, assim como a banda o é. Não deixem que o meu interesse nas personagens dançantes que me rodeiam engane.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Do papa

Hoje o papa está cá em Lisboa e o Mika também. Se eles se juntassem a dar um concerto podiam cantar: Sucking too hard on your holy pope!

Piadas com a Joana à hora do almoço.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Do chatroulette

Venho por este modo confirmar os rumores que por aí circular: o chatroulette é mesmo o mais recente antro de depravação deste estranho mundo que é a internet.
É como se diz, a curiosidade matou o gato. Neste caso não me matou, mas deixou seriamente traumatizada. Pensando bem, realmente matou, o que sobrava da minha fé na humanidade.
É que em nem sequer meia hora naquele fim de mundo apanhei mais personagens que preferia nunca ter conhecido do que em cinco anos no "mundo real". Um otário qualquer que decidiu que o melhor lugar para fumar erva era em frente a um pc a ver estranhos passar; um gajo que decidiu rentabilizar o seu tempo na sanita a conviver; uma rapariga de pernas escancaradas para a câmara a fazer coisas dignas de um site pornográfico; não um, mas CINCO gajos a despudoradamente baterem uma (pois, aparentemente ver estranhos numa webcam é incrivelmente estimulante) e um outro gajo que, felizmente, estava a puxar as suas calças para cima quando o encontrei.
Pessoas com mínimo sentido de decência diria que não vi nem uma. Aparentemente tiveram mais juízo que eu e fugiram dali.
Deixo o conselho - roletas mais vale a russa, que a probabilidade de traumatismos cerebrais graves é muito, mas mesmo muito, menor.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Das aberturas fáceis

O desgraçado que inventou as, assim chamadas, aberturas fáceis deve estar às voltas no túmulo de tanto rir.
Chamar aquilo de fácil é a suprema ironia. E começo seriamente a desconfiar que o senhor só inventou aquilo para testar a paciência de uma pessoa.
Vemos a setinha no canto da embalagem e o letreiro "Abertura Fácil" e lá vamos todos felizes com os dedos para lá a pensar, tão erradamente, que daí a dois segundos está o pacote aberto. Só que passados cinco minutos de uma odisseia de dedos, unhas, dentes, pinças e sabe-se lá mais o quê o raio da embalagem ainda está fechada. E o "Abertura Fácil" ali a olhar para nós, mesmo com o ar de quem está a gozar com a nossa cara.
Claro que nesta altura uma de três coisas irá acontecer:
Um, Alguém que não tenha presenciado o episódio chega para ajudar e diz "Oh, mas tem aqui uma abertura fácil". E nós passamos-lhe a embalagem para a mão, afastamo-nos e assistimos à sua tentativa frustrada com um sorriso malicioso na cara. (Se conseguirem abrir a embalagem sem esforço então limitamo-nos a ficar com um ar de otário).
Dois, Decidimos que o que está dentro do pacote não vale o esforço e vamos embora.
Ou então, Três, Fazemos o que devia ter sido feito desde o inicio. Agarramos numa faca e desfazemos a porcaria da embalagem.

Bem, retomando o pensamento inicial. Como raio sei eu que o inventos da irononicamente apelidadas aberturas fáceis já morreu, se nem sequer sei quem é o senhor? É puro raciocínio lógico, foi morto a pontapé por alguém que perdeu meia hora da sua vida e grande parte da sua sanidade mental a tentar abrir em vão uma embalagem de chicletes.

domingo, 14 de março de 2010

Das farmácias

Sempre me gabei muito de viver numa zona maioritariamente dominada por velhotes. Aparentava ser uma situação sem grandes desvantagens. As pessoas são simpáticas, embora demasiado conversadoras em paragens de autocarro, não temos que nos preocupar com assaltos (que velhinhos não assaltam ninguém) e no caso de fazermos porcaria basta desatar a correr, nem precisa de ser muito depressa, e ninguém nos apanha.
Mas descobri uma desvantagem: farmácias. Chego eu a uma farmácia com um plano relativamente simples: comprar uma coisa e ir embora, coisa para durar cinco minutos no máximo. Estavam apenas cinco pessoas à minha frente, o que não seria grave se não fossem todos velhinhos.
É que velhinhos implicam muitas doenças, muitas doenças implicam muitos remédios e por sua vez muitos remédios implicam muito tempo. Mas quisesse deus que fosse só isso. Não, vender remédios a velhotes é mais complexo do que simplesmente aviar a receita, pagar e sair. É que eles têm que confirmar se é o remédio correcto, apesar de o farmacêutico ter conferido e assegurado três vezes. Os velhinhos passam então revista às treze embalagens diferentes, operação que, em parte graças à falta de vista, artrite e extrema minúncia, demora pelo menos quinze minutos. E Deus tenha piedade de nós se alguma empresa farmacêutica tiver a brilhante ideia de mudar o design da embalagem de um medicamento. Aí segue-se uma acesa discussão, que dura outros quinze minutos, em que os velhotes basicamente repetem que aquele não é o remédio deles porque a embalagem não é como eles se lembram. E os pobres dos farmacêuticos nada mais podem fazer do que explicar que se o nome é o mesmo, a empresa é a mesma, os ingredientes e respectivas dosagens são os mesmos, o efeito é o mesmo, então o remédio é o mesmo, só mudaram o raio da embalagem. Mas contra velhotes não há argumentos. Uma coisa só se torna minimamente credível para eles quando esta é repetida trinta e quatro vezes, sendo que metade destas têm que ser mais ou menos berradas.
Mas além desta demora, já demasiada convenha-se, é preciso contar com o facto de os velhinhos adorarem conversar e de, por norma, não ouvirem lá muito bem. Portanto lá ficam eles a contar a sua vidinha toda (e a dos filhos, netos, gatos, cães, e hamsters) aos farmacêuticos. E como, morando numa zona dominada pela terceira idade, os farmacêuticos são, também eles, quase todos velhinhos, a conversa é mutua. E ficam intermináveis minutos a trocar histórias de um lado para o outro do balcão, meio berrado e repetido cinquenta vezes.
O raio da minha visita à farmácia que devia ter demorado cinco minutos acabou demorando quase uma hora, e como bónus descobri a vida de metade dos meus vizinhos e a sua condição clínica quase completa.

O pior é que isto sucedeu-se no auge da histeria da Gripe A e eu, doente obviamente senão não teria ido comprar remédios, não pude tossir sequer uma vez. Sob pena de ser raptada por uma ambulância e ser mandada para um qualquer exílio perfeitamente esterilizado.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Aos leitores

Caros raros leitores isto não é, nem nunca tencionou ser, um blog sério sobre assuntos sérios. Trata-se apenas dos devaneios descontentes de uma humilde parasita da sociedade, leia-se: estudante. Se falo ocasionalmente de coisas minimamente sérias asseguro-vos que é mera coincidência e digo-as com muito pouca ou quase nenhuma seriedade nas minhas palavras.
Parece existir alguma confusão entre gente que cá vem bater, sabe lá Deus como, que comenta indignado (penso eu, que isto da internet não ter entoação cria algumas confusões) pensando, certamente, que existe algum fundamento no que digo. Pois não há. Não faço absolutamente pesquisa alguma antes de postar o que quer que seja. E isto pelo simples motivo de que não tenho qualquer ímpeto revolucionário de expôr os males do mundo. Escrevo apenas sobre o que me irrita ou faz confusão. A mim, sublinhe-se, e para a subjectividade assumida não necessito de fundamento.

Dito isto, considerem-se avisados sobre o conteúdo deste blog. Se decidirem continuar a lê-lo a responsabilidade é exclusivamente vossa.