quinta-feira, 18 de março de 2010

Das aberturas fáceis

O desgraçado que inventou as, assim chamadas, aberturas fáceis deve estar às voltas no túmulo de tanto rir.
Chamar aquilo de fácil é a suprema ironia. E começo seriamente a desconfiar que o senhor só inventou aquilo para testar a paciência de uma pessoa.
Vemos a setinha no canto da embalagem e o letreiro "Abertura Fácil" e lá vamos todos felizes com os dedos para lá a pensar, tão erradamente, que daí a dois segundos está o pacote aberto. Só que passados cinco minutos de uma odisseia de dedos, unhas, dentes, pinças e sabe-se lá mais o quê o raio da embalagem ainda está fechada. E o "Abertura Fácil" ali a olhar para nós, mesmo com o ar de quem está a gozar com a nossa cara.
Claro que nesta altura uma de três coisas irá acontecer:
Um, Alguém que não tenha presenciado o episódio chega para ajudar e diz "Oh, mas tem aqui uma abertura fácil". E nós passamos-lhe a embalagem para a mão, afastamo-nos e assistimos à sua tentativa frustrada com um sorriso malicioso na cara. (Se conseguirem abrir a embalagem sem esforço então limitamo-nos a ficar com um ar de otário).
Dois, Decidimos que o que está dentro do pacote não vale o esforço e vamos embora.
Ou então, Três, Fazemos o que devia ter sido feito desde o inicio. Agarramos numa faca e desfazemos a porcaria da embalagem.

Bem, retomando o pensamento inicial. Como raio sei eu que o inventos da irononicamente apelidadas aberturas fáceis já morreu, se nem sequer sei quem é o senhor? É puro raciocínio lógico, foi morto a pontapé por alguém que perdeu meia hora da sua vida e grande parte da sua sanidade mental a tentar abrir em vão uma embalagem de chicletes.

domingo, 14 de março de 2010

Das farmácias

Sempre me gabei muito de viver numa zona maioritariamente dominada por velhotes. Aparentava ser uma situação sem grandes desvantagens. As pessoas são simpáticas, embora demasiado conversadoras em paragens de autocarro, não temos que nos preocupar com assaltos (que velhinhos não assaltam ninguém) e no caso de fazermos porcaria basta desatar a correr, nem precisa de ser muito depressa, e ninguém nos apanha.
Mas descobri uma desvantagem: farmácias. Chego eu a uma farmácia com um plano relativamente simples: comprar uma coisa e ir embora, coisa para durar cinco minutos no máximo. Estavam apenas cinco pessoas à minha frente, o que não seria grave se não fossem todos velhinhos.
É que velhinhos implicam muitas doenças, muitas doenças implicam muitos remédios e por sua vez muitos remédios implicam muito tempo. Mas quisesse deus que fosse só isso. Não, vender remédios a velhotes é mais complexo do que simplesmente aviar a receita, pagar e sair. É que eles têm que confirmar se é o remédio correcto, apesar de o farmacêutico ter conferido e assegurado três vezes. Os velhinhos passam então revista às treze embalagens diferentes, operação que, em parte graças à falta de vista, artrite e extrema minúncia, demora pelo menos quinze minutos. E Deus tenha piedade de nós se alguma empresa farmacêutica tiver a brilhante ideia de mudar o design da embalagem de um medicamento. Aí segue-se uma acesa discussão, que dura outros quinze minutos, em que os velhotes basicamente repetem que aquele não é o remédio deles porque a embalagem não é como eles se lembram. E os pobres dos farmacêuticos nada mais podem fazer do que explicar que se o nome é o mesmo, a empresa é a mesma, os ingredientes e respectivas dosagens são os mesmos, o efeito é o mesmo, então o remédio é o mesmo, só mudaram o raio da embalagem. Mas contra velhotes não há argumentos. Uma coisa só se torna minimamente credível para eles quando esta é repetida trinta e quatro vezes, sendo que metade destas têm que ser mais ou menos berradas.
Mas além desta demora, já demasiada convenha-se, é preciso contar com o facto de os velhinhos adorarem conversar e de, por norma, não ouvirem lá muito bem. Portanto lá ficam eles a contar a sua vidinha toda (e a dos filhos, netos, gatos, cães, e hamsters) aos farmacêuticos. E como, morando numa zona dominada pela terceira idade, os farmacêuticos são, também eles, quase todos velhinhos, a conversa é mutua. E ficam intermináveis minutos a trocar histórias de um lado para o outro do balcão, meio berrado e repetido cinquenta vezes.
O raio da minha visita à farmácia que devia ter demorado cinco minutos acabou demorando quase uma hora, e como bónus descobri a vida de metade dos meus vizinhos e a sua condição clínica quase completa.

O pior é que isto sucedeu-se no auge da histeria da Gripe A e eu, doente obviamente senão não teria ido comprar remédios, não pude tossir sequer uma vez. Sob pena de ser raptada por uma ambulância e ser mandada para um qualquer exílio perfeitamente esterilizado.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Aos leitores

Caros raros leitores isto não é, nem nunca tencionou ser, um blog sério sobre assuntos sérios. Trata-se apenas dos devaneios descontentes de uma humilde parasita da sociedade, leia-se: estudante. Se falo ocasionalmente de coisas minimamente sérias asseguro-vos que é mera coincidência e digo-as com muito pouca ou quase nenhuma seriedade nas minhas palavras.
Parece existir alguma confusão entre gente que cá vem bater, sabe lá Deus como, que comenta indignado (penso eu, que isto da internet não ter entoação cria algumas confusões) pensando, certamente, que existe algum fundamento no que digo. Pois não há. Não faço absolutamente pesquisa alguma antes de postar o que quer que seja. E isto pelo simples motivo de que não tenho qualquer ímpeto revolucionário de expôr os males do mundo. Escrevo apenas sobre o que me irrita ou faz confusão. A mim, sublinhe-se, e para a subjectividade assumida não necessito de fundamento.

Dito isto, considerem-se avisados sobre o conteúdo deste blog. Se decidirem continuar a lê-lo a responsabilidade é exclusivamente vossa.