quarta-feira, 4 de abril de 2007

Das campanhas

Adoro o periodo de campanha eleitoral, palavra que adoro. Haverá coisa melhor que ver a harmoniosa cara do Jacinto Serrão logo pela manhã, sorrindo-nos amigavelmente com aquele olhar quase estrabico? Ou o ar carinhoso do nosso mui bom amigo Alberto João, com a sua mãozinha levantada sobre um degradé foleiro como tudo? Num agradavel mar de cartazes que nos povoa a cidade. Oh, coisa digna de um cartaz turistico, realmente, este jardim à beira mar plantado. Mas é que é bonito, não me canso de dizer, toda esta bonita decoração pre-eleitoral.
De facto, bastava meterem a tocar um Tony Carreira ou um Quim Barreiros, deixarem por aí uns bêbados de garrafa de vinho tinto na mão e eu jurava que isto era um arraial. Com todas as faixas laranjas e azuis a ondularem ao vento e os cartazes luminosos.
Ah, e como é bela também toda a movimentação humana que se gera à volta das eleições. É digno de um documentário do Odisseia a afluência dos politicos aos adros das igrejas, nos solarentos Domingos de manhã, armados até aos dentes com panfletos mal impressos, conversinhas da chacha, beijinhos aos bebés ranhosos e sorrisos falsos. E as romarias da CDU às zonas altas do Funchal, para uma 'conversa honesta' com os moradores, sempre documentada pela fiel RTP-Madeira? E as incontáveis inaugurações do PSD, de tudo o que é coisa, até de obras mal acabada?
Oh, não há época mais bonita do que a de campanha eleitoral. Tenho dito.

terça-feira, 20 de março de 2007

Dos Ovos de Páscoa

Lamento verdadeiramente ser eu a responsável por alguns sonhos inocentes serem destruídos, a sério que lamento, mas há em toda esta história dos ovos de Páscoa uma série de enormes incoerências. Coisas que contrariam toda e qualquer lei cientifica e que, ainda assim, toda a gente fecha os olhos 'em nome da tradição'. Mas, objectivamente, vejamos.
Um coelho é um mamífero, certo? Certo. Não é de grande porte, não se desloca sobre duas patas, e quanto muito o seu pelo varia entre o branco e o castanho, passando por cinzentos que não são de grande relevância. Depois, nunca ninguém teve conhecimento, também, de algum coelho que fosse capaz de fabricar cestos. Continuando, sendo o coelho um mamífero não põe ovos e, subsequentemente, nunca nasceria de um ovo.
Ignoremos, por instantes, todas estas constatações óbvias a que chegamos. Supondo que um coelho pode nascer e pôr ovos, ainda assim não teria qualquer fundamento que estes fossem de chocolate. Seria necessário o coelho ser capaz de produzir, autonomamente no seu organismo, cacau. Isso é, mais uma vez, impossível. (Há sempre a tal hipótese da manipulação genética mas sejamos realistas, não me parece)
Mas mais uma vez, deixemos para trás todos estes raciocínios. É, neste momento do nosso pensamento, possível que um coelho nasça e ponha um ovo de chocolate. Sobra ainda uma questão. De onde raio vem o brinquedo? Por obra do divino espírito santo? Vendo bem, não parece tão disparatado, tendo em conta que foi um coelho a pôr o ovo de chocolate...
Agora, depois de expostos tantos erros de raciocínio nesta história do Ovo, digam-me. Mas como é que ainda tentam fazer uma criança acreditar que, no domingo de Páscoa, vem um coelho enorme, muitas vezes cor de rosa, aos pulos pelo nosso jardim, com um cesto na mão e a distribuir ovos de Páscoa (com brinquedo incluído) como se não houvesse amanhã?

sábado, 24 de fevereiro de 2007

Dos papelinhos do tabaco

A história é a seguinte, não sei se só funciona na ilha ou se funciona no rectangulozinho português também, mas a nós disseram-nos que se juntassemos um quilo de papelinhos dos cigarros estariamos a contribuir com uma cadeira de rodas para aquelas pessoas que precisam de cadeira de rodas. Isto é tudo muito bonito e altruista mas, verdade seja dita, parece-me tudo um pouco rebuscado. Porquê? Primeiro porque a mim ninguém me disse a quem dou os papelinhos. Parece aquelas histórias indianas em que dás a um amigo que dá ao amigo que dá ao primo que dá a nem sei quem. Anda uma pessoa com cuidadinho a juntar os "selos" do tabaco para posteriormente os deixar jogados nas mãos de um qualquer? Depois, quem é a tal entidade que dá a mui esperada cadeira de rodas? Possivelmente a mesma "pessoa" a quem deveriamos dar os papelinhos. Mas, não sabendo a quem devemos entregar, isto fica tudo um pedaço ao calhas. Talvez seja, provavelmente será, apenas uma lacuna de informação e uma boa alma qualquer de uma empresa tabaqueira se tenha decidido a pagar os seus pecados oferecendo uma cadeira de rodas, assim, em troca de um quilo de papeis do tabaco. Mas sobra sempre espaço para uma boa teoria da conspiração, imaginando-se isto tudo um esquema entre as empresas de tabaco e os serviços médicos privados especializados em problemas pulmunares, que confiando na solidariedade das pessoas que, claro, fumarão unica e exclusivamente para ajudar os pobres desgraçados das cadeiras de rodas trarão imenso lucro a ambas as partes. A mim, soa-me credivel.

Descontentamento a pedido de Frederica Malho, acho eu.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Da abstenção

Ontem realizou-se, finalmente, o tão esperado referendo sobre a despenalização do aborto. O resultado não foi exactamente uma surpresa, mas que choca uma pessoa... isso choca.
Das duas opções ganhou logo a que eu não esperava. Ganhou a que não estava no papel. 58% de abstenções, onde já se viu? Mas que tinha esta gente toda de tão importante que não pudesse gastar cinco minutos do seu mui precioso tempo a fazer uma cruzinha num papel? Deus, andaram uns gajos a atirar cravos que nem uns malucos às paredes e a passear-se em tanquezinhos para quê? Não me queixo que isso valeu-me um feriado por ano mas, digo eu, não anda um gajo armado em revolucionário só para ficar a sornar no dia 25 de Abril. Tive eu que dar a revolução na escola, matar-me a estudar para decorar o nome daqueles marmanjos todos e a que horas é que decidiram fazer o quê para agora esta gentinha achar-se no direito de ficar a mamar sono o domingo todo, ao invés de fazerem um esforçozinho e ir votar?
Da próxima atiro eu um cantaro de cravos à cabeça de quem preferir ficar em casa, só porque sim.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Dos fumadores profissionais

Se me coubesse a mim a tarefa de separar os fumadores em grupos distintos, separaria em dois . Os vulgares e os profissionais. Sobre os vulgares nem me debruço, afinal são aqueles fumadores de todos os dias, que existem sempre em todos os cafés ou em todas as ruas. Agora os profissionais são uma subespécie bem mais rara e peculiar.
Podemos distingui-los por três condicionantes marcantes. O tabaco que fumam, a maneira como o transportam e o seu isqueiro. Passo a elaborar.
Um fumador profissional não fuma, nunca em circunstancia alguma, Português ou Além-Mar ou sequer Marlboro. É apenas aceitável fumar marcas de superior qualidade (?) e, principalmente, preço do que o bem amado Marlboro. Ocasionalmente fuma cigarrilhas de inquestionável (?) bom gosto e, em dias de festa, autênticos cubanos. Um carimbo de exportação no seu tabaco é sempre motivo de orgulho.
O fumador profissional, também, não transporta o seu tabaco numa qualquer embalagem, muito menos na embalagem de venda dos cigarros. Impossivel seria ver um fumador profissional com o ultimo cigarro do dia no bolso do casaco. O tabaco é somente transportado em cigarreiras. Atenção que não é uma qualquer cigarreira de bazar chinês que se pode considerar apta, longe disso. Para ser digna de um fumador profissional tem de custar, no mínimo, 20€. Existem nas variantes cabedal, prata, ouro e ouro branco. Sempre com o nome ou iniciais do dono marcadas.
O isqueiro também não deixa margens para enganos. Em nenhum universo paralelo, nem no mais surreal episódio da Quinta Dimensão, veremos um fumador profissional com um isqueiro da BIC, a pedir lume a alguém ou a tirar uma caixa de fósforos comprada no Pingo Doce do bolso. Um fumador profissional é um orgulhoso proprietario de um Zippo de 42€ com tecnologia à prova de vento, rádio, tv via satélite e com as iniciais, novamente, embutidas. Vai daí que talvez não tenha rádio ou tv, mas a ideia mantém-se. O fumador profissional é a unica espécie de fumador que há de chorar baba e ranho no dia em que o isqueiro desapareça/fôr roubado/fique esquecido num qualquer sítio.
Apesar de não tão marcante, outro aspecto distintivo no fumador profissional é o ar de quem tem uma vela enfiada no traseiro de cada vez de tira um dos seus incrivelmente caros cigarros da sua, igualmente, incrivelmente cara cigarreira e o acende com o seu, adivinhem, incrivelmente caro isqueiro. Talvez seja uma tentativa de demonstrar uma qualquer aristocracia no que toca às inexistentes hierarquias dos fumadores. Talvez tenha realmente uma vela enfiada no traseiro, cada louco com a sua mania.

sexta-feira, 19 de janeiro de 2007

Prazos

Acho que cheguei ao tal ponto em que já não há descontentamento que me valha. Não são as inutilidades do Governo que me fazem escrever, nem tão pouco as divagações sem sentido que se veêm no sistema de ensino, não são os cinco centimos a mais no Marlboro, nem os tais 20% no pão. Talvez seja só o prazo de validade de mais um blog qualquer a chegar ao fim. Ou talvez seja só que de tão habituada que estou já nem me lembre de estar descontente.